sexta-feira, 10 de outubro de 2014

aborto espontâneo

andreia vieira

Como prevenir o aborto espontâneo




É possível, antes da gravidez, detectar problemas que, se não tratados, podem provocar um aborto no futuro

Deborah Kanarek

Problemas hormonais e infecções virais que levam ao aborto espontâneo, como a toxoplasmose, podem ser detectados antes da gravidez. Por isso, os médicos recomendam que a mulher faça diversos exames preventivos para verificar se a saúde está em ordem e comece a ingerir ácido fólico, que ajuda a evitar malformações. Outra vantagem é identificar com antecedência os problemas anatômicos que causam abortos, em geral tardios, entre o terceiro e o quarto mês de gravidez. “São alterações no formato do útero ou miomas, por exemplo, que podem bloquear o crescimento do feto ou o fluxo de sangue para a placenta. Normalmente, eles podem ser tratados”, explica Mauro Sancovsky, professor de obstetrícia. Para a terapeuta Fátima Bortoletti, essa “faxina” na saúde também é importante para afastar fantasmas psicológicos — na hora de engravidar pela primeira vez ou quando ocorrem abortos. “Neste último caso, principalmente, as causas precisam ser identificadas para que a mulher mantenha a disposição de fazer novas tentativas sem medo”, diz. Ela lembra que, apesar de os abortos serem freqüentes, as gestações normais são muito mais comuns.

Sonho adiado: quando acontece o aborto


Uma em cada seis mulheres sofre aborto espontâneo



Quando a arquiteta Elke Benchaya, 32 anos, soube que estava grávida, comprou roupinhas, contou aos amigos e ganhou presentes. Ao fazer o primeiro exame de sangue descobriu que o hormônio da gravidez estava em níveis inferiores ao esperado. “Fiquei preocupada, mas tinha esperança de que tudo ficasse bem”. Estava completando a décima semana de gestação e foi encaminhada imediatamente para uma ultra-sonografia. O exame mostrou que o feto estava sem batimentos cardíacos. “Chorei, fiquei mal, mas não me desesperei”, diz. Elke submeteu-se a uma curetagem, a raspagem dos tecidos do útero que envolvem o embrião. Resolveu dar um tempo e tentou engravidar novamente do primeiro filho apenas um ano depois. Não teve mais problema. Deu à luz Raquel, que tem 1 ano e 2 meses, e está grávida novamente de três meses.

Uma em cada seis gestações acaba em aborto espontâneo, a maioria antes dos três meses. E depois dele é comum surgirem dúvidas e sentimento de culpa. O que eu tenho? O que fiz de errado? Foi o estresse? Um exercício mais pesado? Um copo de vinho? O cigarro que não consegui largar? “Nunca é culpa da mãe”, garante Mauro Sancovsky, professor de obstetrícia. Cerca de 40% das causas, segundo ele, se dividem entre imunológicas, infecciosas, hormonais e problemas anatômicos do útero. As outras 60% podem ser atribuídas a anormalidades cromossômicas que ocorrem ao acaso, na multiplicação das células que formam o embrião. Pesquisas indicam que as probabilidades desses problemas aos 25 anos são de 1 para mil, saltam para 1 em 200 aos 35 e para 1 em 25 aos 45. “É uma seleção do próprio organismo, que elimina o embrião com anomalias”, explica Sérgio Brasileiro Martins, ginecologista. Se o problema ocorre logo no início da gestação, muitas vezes a mulher nem chega a saber que ficou grávida e elimina o ovo como se fosse uma menstruação atrasada. 


Em todos os casos, o sangramento pode ou não ser o primeiro anúncio do aborto. “No início da gravidez, quando o ovo se fixa na parede do útero, é normal haver perda de sangue, que logo pára”. O sangramento que precede o aborto começa de forma semelhante, mas se intensifica. Quando esse sintoma surge, costuma-se indicar a curetagem para apressar a limpeza do útero e evitar infecções. Se não há sangramento ou ele é pouco, o médico pode aguardar a eliminação natural que resulta da queda das taxas hormonais da gravidez. “É possível esperar de 15 dias a um mês, dependendo do estado psicológico da paciente. Então monitoramos essa ação com ultra-sonografias uterinas”, explica Sancovski.

Mais de uma vez

Cerca de 2% das mulheres repetem a experiência do aborto antes de levar uma gestação até o fim. A dentista Sílvia Grimm, 35 anos, teve três, sempre no início, até engravidar de Isadora, hoje com 1 ano e 3 meses. “Na última, eu já tinha visto a imagem do embrião e ouvido seus batimentos cardíacos. Foi horrível”, resume. Em casos como o dela, a causa costuma ser imunológica. O corpo reconhece o embrião como um estranho e as chances de levar a gravidez adiante caem 40%. Isso não ocorre normalmente porque o organismo desenvolve um anticorpo protetor do embrião a partir da concepção. Para tentar resolver o problema, Sílvia tomou uma série de vacinas obtidas com o material genético do marido, tratamento que eleva em 10% a chance de manter a gravidez. Além disso, os dois preferiram acelerar o processo com uma inseminação artificial e combater a ansiedade com uma terapia de casal. “Ajudou-nos a ficar mais fortalecidos”, diz.

A gravidez também pode não vingar por causa de uma baixa produção de progesterona, o hormônio feminino que garante a implantação do ovo na parede do útero até a formação da placenta. Esses casos podem ser resolvidos. “Hoje, temos no Brasil uma progesterona modificada em laboratório, que é 20 vezes mais potente do que a natural. Está sendo comercializada desde março”, diz Abner Lobão, coordenador de pré-natal. A principal vantagem, segundo ele, é que uma quantidade menor do medicamento é mais eficaz, reduzindo efeitos colaterais como depressão, irritação gástrica e náuseas. 


Dúvidas freqüentes
· Todo sangramento é sinal de aborto?
Quando o ovo se fixa na parede do útero, pode provocar sangramento, que logo cessa. O do aborto começa igual, mas se intensifica.

· Posso ter um aborto depois de uma gestação normal?
Sim, pois as anormalidades ovulares, principal causa de abortos espontâneos, ocorrem ao acaso.

· Quanto tempo devo esperar para engravidar?
Normalmente, os médicos liberam a gravidez tão logo o ciclo menstrual seja normalizado.

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